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17
Jul17

Novamente, as alterações climáticas

Ricardo Jorge Pereira

Retomo o assunto alterações climáticas.

É ponto assente que as mudanças climáticas vieram para ficar.

Já se viu o que podem fazer e, explicam-nos, trarão, no futuro, enormes dificuldades à população da Terra por causa do aumento da temperatura da água dos oceanos (e a consequente subida do nível da mesma porque o gelo alojado nos Pólos Sul e Norte continuará a derreter) e da ocorrência, mais frequente, de fenómenos meteorológicos extremos como a seca (a tal ausência prolongada de precipitação) que se manifestarão, por exemplo, na erosão dos solos, no maior risco de incêndios e numa maior pressão humana sobre recursos naturais finitos como a água potável.

Abordarei, no entanto, nas linhas que se seguem, uma constatação cientificamente documentada e dois exemplos que enunciam, em minha opinião, ‘pistas’ e, claro, ‘estratégias’ a seguir para, no contexto de “luta” contra as alterações climáticas, a espécie humana, no seu todo, aproveitar a oportunidade para mudar de vida.

A constatação: o aumento demográfico.

Viviam no planeta Terra, há uma década, cerca de 6750 milhões de pessoas.

Por outro lado, o relatório World Population Prospects. The 2017 Revision, compilado pela Organização das Nações Unidas, refere que a Terra dá, hoje, abrigo a 7550 milhões de pessoas. E perspectiva que existirão, em 2050, mais de 9770 milhões seres humanos.

O primeiro exemplo: a pecuária.

Segundo o documentário Cowspiracy (que está, por exemplo, disponível na plataforma YouTube), a esmagadora maioria das reservas de água que, no mundo, poderiam servir para o consumo humano são consumidas, precisamente, pela actividade pecuária.

Ou seja, é a criação de animais (em particular, os de origem bovina) para fornecer carne e outros alimentos para o consumo humano que “absorve” a maior parte da água disponível e não a satisfação de necessidades das próprias pessoas.

O segundo exemplo: a pluviosidade e a subida da água do mar e dos rios.

O artigo “The Dutch Have Solutions to Rising Seas. The World Is Watching.” que o jornal norte-americano The New York Times publicou em meados de Junho deste ano destacou um conjunto de metodologias postas já em prática por dirigentes políticos, comunitários e pelos próprios habitantes da cidade holandesa de Roterdão – e, algumas, que foram, entretanto, delineadas – no sentido de “viver com a água” e não “de a contrariar”, por assim dizer.

Foram, deste modo, construídos reservatórios para contenção da água em caso de inundações ou, até, de precipitação.

E, também, fontes, jardins e campos desportivos em zonas da cidade menos favorecidas, económica e socialmente, para retenção da mesma.

Assim, a cidade reinventou-se, tornou-se mais verde e conseguiu, até, criar e desenvolver novos projectos de criação de empregos.

De facto, a pergunta sobre se a espécie humana entenderá as alterações climáticas como obstáculos à sua permanência na Terra ou, ao invés, como geradora de oportunidades para mudar de vida faz, quanto a mim, todo o sentido.

E tem mesmo, considero-o, que abraçar essa mudança se não quiser que lhe aconteça o mesmo que causou – e que está a causar – a inúmeras espécies da fauna (e, por extensão, da flora) do planeta: a extinção...1

O tempo está a esgotar-se e, por isso, a mudança de mentalidade(s) exige-se.

 

 

1 O estudo que a publicação científica Proceedings of the National Academy of Sciences divulgou, há poucos dias – Biological annihilation via the ongoing sixth mass extinction signaled by vertebrate population losses and declines – demonstrou, efectivamente, que estava em curso uma nova extinção em massa de espécies animais no planeta. Um dos factores apontados como estando na sua origem foi, precisamente, a sobrepopulação humana.

Ora, há muitos anos que me venho colocando uma pergunta: não serão as viagens científicas a outros planetas do sistema solar (como a Marte, por exemplo) feitas, “em última análise”, com um objectivo que é o de analisar se existem – ou se poderão vir a ser criadas – condições para que, sendo necessário (se se verificasse, por exemplo, caos militar, social e económico generalizado no planeta Terra), algumas centenas ou milhares de pessoas (possuidoras de determinadas “características” financeiras, evidentemente...) pudessem ir viver para esses planetas como os colonos de outrora?

 

14
Jul17

Tão longe e tão perto

Ricardo Jorge Pereira

As forças iraquianas reconquistaram, no início deste mês de Julho de 2017, a 2.ª maior cidade do Iraque.

Após 3 anos de domínio dos militantes e combatentes do chamado Estado Islâmico (ou Daesh, na sigla árabe), a maior metrópole do norte do país, Mossul, foi libertada pelo exército iraquiano, militarmente apoiado por uma coligação liderada pelos Estados Unidos da América, depois de ter empreendido uma batalha que durou perto de nove meses.

Mossul havia, efectivamente, sido declarada pelo líder da organização – Abu Bakr al-Baghdadi – como bastião de um califado que dominava vastos territórios no Iraque e na Síria.

No entanto, enquanto se celebrava, na capital Bagdad, o primeiro-ministro iraquiano Haidar al-Abadi como o herói nacional que havia derrotado os impiedosos terroristas do Estado Islâmico, esqueciam-se dois ‘pequenos’ pormenores: o primeiro era o de que existiam, ainda, em Mossul, “bolsas de resistência” ocupadas por combatentes jihadistas e o segundo era o de que essa derrota total (que, pelos vistos, não era assim tão total…) não significaria o fim do Estado Islâmico nem o fim do sectarismo e extremismo religiosos1.

Ora, a face mais visível dessa violência tem sido o atentado (ou ataque) terrorista.

Na verdade, o gabinete de estudos National Consortium for the Study of Terrorism and Responses to Terrorism da universidade norte-americana de Maryland realçou que, apesar de os ataques terroristas ocorridos em 2015 se terem verificado em quase 100 países, mais de metade deles ocorreu em, apenas, cinco: Iraque, Afeganistão, Paquistão, Índia e Filipinas. Por seu lado, 69% de todas as mortes associadas a esses ataques tiveram lugar, igualmente, em cinco países: Iraque, Afeganistão, Nigéria, Síria e Iémen2.

Por seu lado, o Global Peace Index 2016, elaborado pelo Institute for Economics & Peace, destacou que, à excepção dos países das regiões do Próximo Oriente e do Norte de África, os que se situam na Europa foram os mais fustigados, em 2015, pelo terrorismo.

Olhe-se, por isso, mais detalhadamente, para os ataques terroristas que têm aterrorizado, nos últimos anos, vários países europeus.

Quase todos tiveram a “marca” do Estado Islâmico.

Uma marca de intolerância, de brutalidade, de imprevisibilidade e, sobretudo, de medo: para o filósofo e escritor Umberto Eco os terroristas não saqueavam para possuir nem matavam para saquear. Matavam, sim, para punir e para purificar através do sangue.

Também o filósofo Claude Polin, no seu O totalitarismo, reflectiu sobre esta questão da punição: «Em todas as guerras existe um inimigo, mas que só o é condicionalmente, e a prova disso é que apenas se pretende que ele desista da luta. Se pretendermos tornar a luta em algo de absoluto, é preciso que o inimigo também o seja».

Assim, o Outro é «um inimigo que não sabe que o é, mas que continua a ser um inimigo sem o saber e sem querer, faça o que fizer».

Séculos depois de um manuscrito ter previsto a conquista da Europa pela «espada do Islão», parece que uma nova era da jihad internacional despontou pois Portugal fazia parte dos planos do Estado Islâmico com a pretendida recuperação do Al-Andaluz de antanho.

E se o Estado Islâmico original desaparecer, não tenho quaisquer dúvidas de que um qualquer outro Estado Islâmico irá ocupar o seu lugar...

1Na crónica que assinou na edição online do jornal francês Le Figaro no passado dia 10 de Julho, Éric Zemmour escreveu o seguinte: «O Próximo Oriente vive, actualmente, uma situação parecida com aquela que a Europa viveu no século XVII já que a querela religiosa entre católicos e protestantes se transformou numa guerra total».

2Este mesmo gabinete universitário, através da sua base de dados dedicada ao terrorismo global, por assim dizer, registou, em 2015, 14.806 ataques terroristas, ou seja, cerca de 41 ataques diários.

13
Jul17

Índia, França e o acordo de Paris

Ricardo Jorge Pereira

Foi publicado, há poucos meses (em Maio de 2017), um artigo – “India reaffirms Paris climate commitments” – no sítio de uma organização não-governamental a propósito do comprometimento indiano com os postulados estabelecidos, em Dezembro de 2015, num acordo global sobre o clima assinado na capital francesa, Paris.

Renovados votos de envolvimento no acordo apesar de um dos seus signatários e maiores poluidores do planeta, os Estados Unidos da América, ter decidido abandonar tal vinculação ecológica, por assim dizer.

Recorde-se que, de acordo com a Organização das Nações Unidas, a Índia é um país em desenvolvimento (economicamente).

No entanto, algum tempo depois (no passado dia 10 de Julho do mesmo ano), o portal de noticias Asia Times publicou, também no formato online, o artigo “India speeding toward nuclear energy self-sufficiency”.

Nele dizia-se, por exemplo, que «o governo de Narendra Modi [primeiro-ministro indiano] comprometeu-se, de maneira séria, com a energia nuclear tendo aprovado planos para a construção de 10 novos reactores atómicos capazes de elevar a capacidade nuclear da Índia para 63.000 megawatts até 2032».

De facto, após me ter lembrado do que havia lido há uns meses, questionei-me como se poderia apoiar as premissas de um acordo internacional sobre o clima e, ao mesmo tempo, “em casa”, apoiar a energia obtida através do regime nuclear.

Não que a energia obtida através de reactores nucleares não seja “limpa” e polua o ambiente através do consumo de carvão ou de petróleo.

Não.

Ela deixa, sim, para sempre (tendo em conta a esperança de vida dos seres humanos, actual e futuramente), um rasto de lixo tóxico que não pode ser “tratado” e, por isso mesmo, esquecido.

Curiosamente, no mesmo dia em que foi dada a conhecer esta vontade indiana, actores políticos em França deram a conhecer a sua vontade de encerrar alguns reactores nucleares no país.

Poderiam ser 17 (de um total de 58) até 2025, disse o ministro francês da Transição Ecológica, Nicolas Hulot.

Ou seja, não apenas se pretenderia reduzir o ‘peso’ do nuclear na obtenção de energia por parte do país como se quereria, certamente, ‘compensar’ essa perda de energia com uma maior produção energética através de centrais eólicas e solares.

Assim, dois subscritores de um só acordo global sobre o clima mas, afinal, duas vontades.

Não percebo.

12
Jul17

A nova Rota da Seda

Ricardo Jorge Pereira

A expressão “Rota da Seda” foi inventada pelo cientista e geógrafo alemão do século XIX Ferdinand von Richthofen.

Mas o que foi a “Rota da Seda”?

Peço, mais uma vez, ajuda a um artigo do portal Infopédia acerca da Rota da Seda: «A via comercial terrestre que ligava a China ao Mar Mediterrâneo, conhecida como Rota da Seda, foi muito utilizada desde os primeiros séculos da nossa era até ao início da Idade Moderna. (…) As caravanas que percorriam a rota da seda partiam de Antioquia [hoje, no Sul da Turquia] e Tiro [actualmente, no Libano] , chegando, através da Mesopotâmia [hoje, a região do Próximo Oriente], ao Irão, Jurasão [desconheço a actual localização], Turquemenistão e Bactros [da Bactria, região actualmente “dividida” entre o Afeganistão, o Tadjiquistão e o Uzbequistão] , a partir de onde se dirigiam para Samarcanda [hoje, também no Uzbequistão] e para a cidade chinesa de Kashgar. (…) A Rota da Seda acabou por perder a sua importância devido à descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama em 1498».

De facto, muitos séculos passaram até que, em 2013, o presidente chinês Xi Jinping anunciou ao mundo o “lançamento” de um novo programa que reavivaria as antigas rotas comerciais entre a China, o resto da Ásia, o continente africano e a Europa. E que incluiria, igualmente, outras regiões (como a América do Sul, por exemplo…).

Um programa que, de resto, seria considerado por muitos como a maior “obra” da diplomacia económica da China e o maior empreendimento de alcance transcontinental alguma vez “lançado”.

A “Iniciativa Faixa e Caminho” («Belt and Road Initiative», na língua inglesa) inseria-se, pois, numa estratégia de expansão global da China: foram, entretanto, assinados acordos entre a China e 65 países (e, também, 3 organizações internacionais) para criar e desenvolver um conjunto de infra-estruturas que lhe possam conferir significado.

Ou seja, uma “rede” de “corredores” e de “estradas” - no fundo, zonas de investimento -, que “ligassem”, economicamente sobretudo, todo o mundo: um projecto terrestre (a denominada Silk Road Economic Belt) e, simultaneamente, marítimo (a Maritime Silk Road).

Influenciando cerca de 4.4 mil milhões de pessoas.

Foi em meados de Maio deste ano (de 2017) que vários chefes de Estado e de governo (da Rússia, de Itália, da República Checa, de Espanha, do Paquistão e de diversos países de África, por exemplo) se reuniram em Pequim para discutir esta ambiciosa iniciativa chinesa.

No entanto, em tal encontro não marcaram presença líderes de “grandes potências Ocidentais” como dos Estados Unidos da América ou da Alemanha.

A razão?

Cepticismo e alguma (ou muita?) desconfiança por parte desses líderes do que consideram as verdadeiras intenções da China ao “lançar” este programa: por exemplo, as instâncias europeias têm estado a investigar um projecto de ligação ferroviária entre Budapeste (a capital húngara) e Belgrado (a capital sérvia) porque poderá estar, alegam, a infringir directivas europeias; já o director do Mercator Institute for China Studies, Jan Gaspers, em declarações reproduzidas pela edição online do jornal de Hong Kong South China Morning Post no dia 20 de Junho de 2017 afirmou que o projecto “Faixa e Caminho” constituía, tão-somente, um “veículo” para transportar o excesso de produção chinesa…

Parece que ainda falta mais diálogo para que a grande alavanca da economia global durante a próxima década possa avançar.

 

O caso português

 

Para Jonathan Hillman (do norte-americano Center for Strategic and International Studies), outro dos académicos que o referido artigo publicado pelo South China Morning Post citou, o projecto chinês “Uma Faixa, Um Caminho” só teria sucesso se tivesse apoio por parte dos cidadãos dos países abrangidos.

De facto, um dos participantes na conferência «China Europe in the Framework of the One Belt, One Road Initiative» que se realizou nas instalações do Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, em meados do mês de Junho de 2017, o macaense Jorge Rangel, frisou que o projecto “Uma Faixa, Um Caminho” não poderá deixar de “ouvir” as respectivas sociedades civis dos vários países se quiser ser bem sucedido.

No entanto – e que eu me tenha apercebido, claro –, têm sido (muito) poucos os contributos vindos de universidades e de centros de investigação que pudessem ajudar o conjunto da sociedade civil em Portugal (em que me incluo) a pensar um projecto que as entidades governamentais desejam que “passe” por Portugal.

Estou, neste sentido, a lembrar-me de um texto escrito pelo embaixador de Portugal na República Popular da China, Jorge Torres Pereira, «PORTUGAL e a CHINA: Importância crescente do relacionamento bilateral» (que a edição n.º 95 de Fevereiro de 2017 da revista digital Portugal Global publicou).

Ora, nele escreveu, também, que «O Governo português atribui assim a maior importância ao Fórum de Macau, traduzida aliás no alto nível político da nossa representação nas Conferências Ministeriais, e temos dado pleno apoio à dinâmica de expansão e inovação expressa no Plano de Actividades aprovado, com particular destaque para a integração da dimensão “Uma Faixa, Uma Rota” [ou “Uma Faixa, Um Caminho”], a qual Portugal tem vindo a acompanhar com particular interesse, designadamente em virtude da componente atlântica da “rota marítima da seda do séc. XXI».

Perguntei-lhe, assim, quais as acções do Governo de Portugal que têm materializado, por assim dizer, esse «particular interesse» no projecto “Uma Faixa, Um Caminho” .

Continuo, mais de um mês depois de colocada a questão, a aguardar uma resposta.

11
Jul17

Quo Vadis Europa?

Ricardo Jorge Pereira

Li, há não muito tempo, numa edição recente de um atlas das relações internacionais, que se assistia, no mundo, a um apagamento das identidades e que a emergência de referências à escala planetária – fruto da tantas vezes invocada globalização – não seria incompatível, apesar de crispações identitárias e do desenvolvimento de diferenciações locais e/ou regionais, com o apoio do Estado-nação como referência principal.

No entanto (poder-se-ia, talvez, dizer “Uma vez mais”), a realidade parece estar a contrariar algumas das parcelas da teoria (no continente europeu mas não só. Veja-se, por exemplo, o caso dos curdos no Iraque: votarão, no próximo dia 25 de Setembro de 2017, mais 3 milhões de pessoas de etnia curda para decidir da independência, ou não, da região chamada “Curdistão iraquiano”): todos podem assistir, por estes dias, a ‘movimentações’, mais ou menos explícitas, que pretendem consumar a separação política de um dado território de um país e, pois, legitimar a constituição de um novo Estado.

O País Basco, em Espanha; a Córsega, em França; a Escócia, no Reino Unido; a Flandres, na Bélgica;…

Por exemplo, realizar-se-á, a 1 de Outubro de 2017, um referendo na região espanhola da Catalunha.

Este referendo pretende reafirmar o sentimento independentista da região (ou, melhor dizendo, da maioria das pessoas que nela vivem).

Mas, diga ele o que disser, o seu destino está traçado: o governo central espanhol recusará reconhecer-lhe qualquer legalidade, jurídica e política.

E, por conseguinte, aos resultados originados.

Como, de resto, acontecera já à consulta popular realizada a 9 de Novembro de 2014.

Imaginemos, no entanto, por um só instante, que tal não sucederia.

O que se passaria, então?

Assistir-se-ia, desde logo, a uma provável ‘fragmentação’ do Estado espanhol e da Nação espanhola já que, noutras regiões, se poderia colocar a questão «se a Catalunha pôde seguir o seu caminho, por que não nós?».

Seria, pois, o fim da Espanha que sempre conhecemos.

E, depois, outras regiões, na Europa e no mundo, com ambições independentistas, ganhariam um apoio legalmente válido para a sua causa.

Ora, se o continente europeu conta, no presente, com cerca de 50 países (este é, apenas, um número aproximado já que a contagem da quantidade de países na entidade Europa está dependente de critérios geográficos, culturais e, até, religiosos…), quantos seriam no futuro, mais próximo ou mais longínquo?

Proponho que se comece por estudar a história da Europa...

10
Jul17

As alterações climáticas

Ricardo Jorge Pereira

O mês de Junho de 2017 foi, desde 1931, o 3.º mais seco mês de Junho em Portugal já que 80% do território português se encontrava caracterizado como estando em seca severa ou em seca extrema.

Na verdade, sempre existiram períodos de seca meteorológica no percurso histórico português.

Isso é indiscutível e não é assunto sobre o qual me interesse, agora, reflectir.

Interessa-me, sim, debruçar sobre o facto de aquele poder vir a ser (cada vez mais segundo a esmagadora maioria dos estudos científicos), um período com maior duração e com maiores consequências a diversos níveis como o consumo humano e o agrícola de alimentos e de água potável, por exemplo: a European Geosciences Union quantificou, entretanto, num relatório que publicou, que se as temperaturas do ar aumentassem, num futuro não muito distante, 1.5 graus centígrados, na região mediterrânica (em que se poderá ‘incluir’ Portugal), a disponibilidade de água potável iria diminuir 9%. E se, porventura, aumentassem 2 graus centígrados, aquela iria diminuir cerca de metade.

As questões a colocar não têm a ver, portanto, com a possibilidade de uma subida das temperaturas do ar.

Elas têm, sim, a ver com o facto de se perceber que níveis atingirão e quando é que isso irá acontecer.

Estas são, “apenas”, algumas das consequências de um fenómeno que se convencionou designar alterações climáticas.

Se, efectivamente, foi o ser humano que criou o ambiente propicio ao surgimento destas mudanças climáticas, é, também, o ser humano que tem que tentar atenuar as suas consequências.

Que aja.

Para bem de todos – dele próprio, dos animais e das plantas –, espero que consiga.

07
Jul17

Os sem valor

Ricardo Jorge Pereira

Fuga de condenados das prisões onde se encontravam a cumprir pena, fuga de passageiros em aeroportos, roubo de armas de instalações controladas por uma força policial (no caso, a Polícia de Segurança Pública), roubo de material militar de paióis em quartéis à guarda do Exército (no caso, o português)...

Enunciar estas situações que aconteceram em Portugal faz com que, também, me tenha recordado de uma frase que li há uns anos e que terá sido dita, certo dia, pelo filósofo grego Platão: «O preço que os homens bons pagam pela sua indiferença face à coisa pública é virem a ser governados por homens sem valor».

06
Jul17

Deveres e direitos

Ricardo Jorge Pereira

Os dois milhões e 200 mil eleitores da antiga colónia espanhola Porto Rico foram a votos, no passado dia 11 de Junho de 2017, para participarem num referendo que tinha sido convocado para se perceber a vontade dos eleitores de que o seu país integrasse – ou não – política e juridicamente, os Estados Unidos da América.

Na verdade, tal acto referendário era unicamente consultivo pelo que o resultado dele saído nunca vincularia os governos porto-riquenho e norte-americano.

Tal ausência de obrigatoriedade ajudará, talvez, a explicar a razão de pouco mais de um quarto dos eleitores inscritos (foram 22.7%) se ter dirigido às secções de voto para exercer o seu direito.

Ou seja, 77.3% dos votantes inscritos optou por não ir votar acabando, por isso, por dar pouca “força” (no plano simbólico, claro) ao facto de Porto Rico abandonar o estatuto de Estado de associação livre (protectorado…) e querer tornar-se no 51.º Estado norte-americano.

Foi, também, no dia 11 de Junho de 2017 que se realizou, em França, a 1.ª volta das eleições legislativas (escolha de deputados para integrarem a Assembleia Nacional do país).

A 2.ª volta dessas eleições realizou-se uma semana depois, em 18 de Junho.

Ora, quer na 1.ª volta, quer na 2.ª, a taxa de abstenção registou níveis nunca antes vistos em actos eleitorais realizados no país: 51.29% e 57.4%, respectivamente (a edição online do jornal francês Le Monde deu, entretanto, conta do facto de, numa pequena povoação, ninguém ter votado. Nem mesmo a presidente da câmara).

Já em Portugal, a abstenção também tem sido a característica comum a muitas eleições.

Tome-se como referência, por exemplo, as eleições dos órgãos das autarquias locais.

Segundo a base de dados Pordata (da Fundação Francisco Manuel dos Santos), abstiveram-se, nas eleições realizadas em 1976, 35.4% dos cidadãos inscritos para votar. Foram, nas realizadas em 1979, 26.2% a fazê-lo, 28.6% nas de 1982, 36.1% nas de 1985, 39.1% nas de 1989, 36.6 % nas de 1993, 39.9% nas que tiveram lugar em 1997, também 39.9% nas de 2001, 39% nas de 2005, 41.0% nas de 2009 e, finalmente, de 47.4% nas de Setembro de 2013.

Mas, perante tais níveis de abstenção (repare-se que nem sequer me estou a referir ao chamado “voto de protesto”: o voto em branco e o voto nulo), o que é que tem sido feito?

Nada.

Absolutamente nada.

Para além de algumas declarações de “circunstância” emitidas por agentes políticos no próprio dia das eleições ou, quando muito, no dia seguinte à realização das mesmas – por exemplo, a edição online do já referido jornal Le Monde invocou, precisamente no dia 19 de Junho de 2017, uma frase do porta-voz do governo do país, Christophe Castaner, acerca dos elevados níveis que a abstenção havia atingido nas eleições legislativas francesas (na 1.ª e na 2.ª voltas): «a abstenção é um fracasso colectivo para a política» – debitando “frases feitas” sobre a relação da política (ou melhor, da classe política e o modo de actuar em política…) com os cidadãos ou, até, da necessidade de se reformar o sistema eleitoral, nunca algo foi feito nem mudou coisa alguma.

No entanto, deveria ser feita qualquer coisa porque, no fundo, trata-se da (des)confiança dos cidadãos no Estado.

Tal como sucede, todos os anos, em Portugal, com os incêndios.

Palavras e mais palavras.

Actos concretos: poucos ou nenhum.

Definitivamente, a democracia já não é o que era.

05
Jul17

Leitores medíocres

Ricardo Jorge Pereira

De acordo com um estudo que o francês Ministére de L’Éducation Nationale levou a efeito, em 2016, 22.5% dos 760 mil participantes (com idades entre os 16 e os 25 anos) que nele foram “auscultados” tinham capacidades de leitura muito deficientes.

De facto, 11.7% foram considerados leitores medíocres, 5.7% como tendo muito fracas capacidades de leitura e 5.1% como possuidores de sérias dificuldades para fazê-lo.

Já em 2017, uma docente da disciplina de francês chamada a corrigir provas do Baccalauréat do país (o Baccalauréat é um exame escrito cujos objectivos, tais como as provas portuguesas feitas no 12.º ano, são sintetizar a matéria aprendida e, ao mesmo tempo, servir de base, por assim dizer, de uma eventual candidatura ao ensino superior), lamentou-se, num post publicado na rede social Facebook com o título «Désolation d’une correctrice du bac en détresse...», da qualidade intelectual presente na maioria dos exemplares que tinha que corrigir e, mais do que isso, que as próprias classificações tivessem que ser aumentadas artificialmente por forma a corresponder às “expectativas” que o Sistema ambicionava.

«Pobre França»«Pobre educação»…, comentou.

Proponho que se faça um exercício mental e se lhe associe uma pergunta: será que se substituísse, nesta (triste) situação, tudo o que diz respeito à França por professores e alunos portugueses, sistema de ensino português e provas escritas em português, por exemplo, seria muito disparatado escrever Pobre educaçãoPobre Portugal?

04
Jul17

A geopolítica dos Estados Unidos da América

Ricardo Jorge Pereira

Os Estados Unidos da América celebram, hoje, o 241.º aniversário da sua formação como país soberano e independente.

Soberania e independência que têm sido definidas, sobretudo, pelo poder da geopolítica.

No entanto, uma investigadora do Observatório Político declarou, numa entrevista televisiva, que «A Rússia é a única potência mundial que tem, verdadeiramente, algum interesse geoestratégico e político na Síria. Os Estados Unidos não têm».

Ora, apesar de eu não ser um especialista nestas matérias, discordei imediatamente do que tinha acabado de ouvir: sendo os Estados Unidos da América a única actual grande potência à escala planetária não é simplesmente possível que não tenha uma “orientação” estratégica numa zona do globo que, historicamente, tem sido palco de conflitos e disputas também pelo controlo dos recursos energéticos. E, ainda mais, porque é, precisamente, nessa região que se situa, por assim dizer, um dos maiores aliados dos Estados Unidos da América e um dos que recebe, anualmente, mais fundos e material militar, sobretudo (e que até tem disputas territoriais com a Síria): Israel.

 

 

Post scriptum: Acho que estas mesmíssimas razões explicam a génese do conflito que, há dias (curiosamente, pouco depois da visita, ao Próximo Oriente, do presidente norte-americano) eclodiu entre o Qatar e a Arábia Saudita (acompanhada pelos seus “vassalos” Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Egipto).

Lembro-me, ainda, de uma divisa: ‘dividir para reinar’...

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