Lisboa e Ceuta
Sabia já que o infante D. Henrique deixou o seu irmão mais novo, o infante D. Fernando, aprisionado em Ceuta no pressuposto de que obteria a sua libertação quando Portugal ‘devolvesse’ Ceuta a Marrocos.
Fosse por uma decisão papal que acabou por proibir a ‘devolução’ de Ceuta – conquistada em 1415 – (uma cidade que entendiam ser já cristã…) ou por outra qualquer razão, certo é que o infante D. Fernando acabou mesmo por ser morto no cativeiro em Ceuta.
Ora, tendo este clima de insucesso, por assim dizer, em mente,visitei, no início de 2016, a exposição “Lisboa 1415 Ceuta”, em Lisboa, nos Paços do Concelho.
O folheto que me ‘ajudou’ a obter informação adicional sobre a exposição dizia o seguinte: «Séculos de relação entre Lisboa e Ceuta, que se manteve mesmo quando as duas cidades seguiram caminhos políticos distintos, asseguraram uma recíproca presença na memória das duas comunidades».
Manteve-se? Que “relação” existe hoje, por exemplo, entre Lisboa e Ceuta?
Um professor especialista no património de origem portuguesa no mundo e na história e arqueologia do norte de África ajudou-me:
«É complexo. Por um lado há toda uma história dos séculos XVIII e XIX em que as relações se mantém, apesar da pertença a países distintos. Por outro, (…) há toda uma simbólica de relações que chega aos dias de hoje, em vários domínios. O facto de Lisboa e Ceuta partilharem bandeiras, o facto de Av. de Lisboa e Av. de Ceuta serem das principais ruas das duas cidades (em Madrid a Rua de Ceuta é uma coisa insignificante), enfim, em vários domínios há uma memória, uma representação que se faz da outra cidade muito superior, mais expressiva, do que o real peso da relação e da importância histórica das duas cidades, quase uma coisa mítica».