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06
Nov18

Liberalidade hoje, conservadorismo amanhã

Ricardo Jorge Pereira

Uma das características psicológicas que muitos estudos científicos associam às personalidades dos seres humanos mais jovens é a irreverência.

Ou seja, o inconformismo.

Que também se manifesta na vontade de contrariar a ordem social estabelecida pela sociedade – cada vez mais global e globalizada… – em que vivem.

Creio, por isso, que as palavras escritas por Felipe Herrera no seu texto “A separação entre as gerações e o desenvolvimento internacional” (incluído no livro “A educação do futuro”, editado pela Editorial Bertrand há mais de uma vintena de anos) são capazes de fornecer pistas, por assim dizer, para poder construir uma resposta consistente para a pergunta “Mas quão intensa e ‘profunda’ (e, claro, duradoura…) é essa vontade de mudança?”.

 

«A rebelião da juventude não vai beber as suas origens ao domínio dos pensamentos preestabelecidos – quer se trate de ideologia ou de teorias de determinado dirigente político. Estamos em presença de um movimento espontâneo que surge, independentemente e nos mais diversos lugares, em luta contra uma sociedade altamente competitiva, na qual o êxito, avaliado em dólares ou em cêntimos, constitui a forma suprema do triunfo social. É uma rebelião contra a insanidade da guerra, a ameaça da destruição atómica, os preconceitos raciais e a injustiça, a poluição do ambiente, etc. Ela ergue barreiras contra todos os artifícios e contra a burocracia que esmaga as instituições públicas e privadas. É, em suma, uma revolta contra os aspectos negativos da nossa civilização, que se tornaram parte integrante daquilo que se chama “progresso económico moderno”.

Verificamos o despertar duma reacção emotiva e visceral entre os jovens, que os leva a voltar as costas à realidade e a procurar a sua identidade num modo de vida que lhes pertença exclusivamente.».

05
Nov18

Para o resto da vida?

Ricardo Jorge Pereira

Abordei, no último texto que aqui ‘deixei’, uma das dimensões da problemática da imigração.

Ora, não pretendo acrescentar nada ao que então referi mas gostaria, no entanto, de continuar nesta ‘temática’ da saída de um país – neste caso de Portugal – e, claro, da entrada e permanência num outro.

De facto, o já por mim aqui citado Professor britânico Charles Ralph Boxer – muito provavelmente «o maior historiador estrangeiro da Expansão portuguesa»... – escreveu o seguinte no seu “O Império Marítimo Português (1415-1825)”: «O cabo Saar, depois de alguns anos de serviço contra os portugueses em Ceilão [hoje, Sri Lanka], escreveu acerca deles vinte anos mais tarde [no século XVII, por sinal]: “seja onde for que cheguem, pensam estabelecer-se aí para o resto da vida, e nunca mais tencionam voltar para Portugal outra vez. Mas um holandês, quando chega à Ásia, pensa: quando os meus seis anos de serviço acabarem, volto outra vez para a Europa”».

Mas, tendo em consideração algumas das informações que há alguns anos (em 2012, creio) me foram transmitidas num questionário “online” que tive a oportunidade de coordenar sobre a emigração portuguesa – “a nova emigração portuguesa”, na plataforma surveymonkey –, e apesar da minha “aversão” e desconfiança em relação às generalizações mais ou menos ‘apressadas’, tenho dúvidas em considerar que muita daquela vontade de se estabelecer num local para o resto da vida se tenha alterado assim tanto apesar da natural passagem do tempo e, evidentemente, da mudança das circunstâncias históricas:

 

em Angola

 

«Não tenho presente nem futuro no meu país (…) escolha estratégica: aqui posso ser alguém. No meu país seria sempre um zero (…) não tenciono voltar a não ser para ver família e amigos. Nunca para viver.»;

 

«Já estou cá há 4 anos e prevejo mais 100.»;

 

no Brasil

 

«conto cá ficar para o resto da vida ......»;

 

na Dinamarca

 

«depois de 8 meses decidimos que era para o resto da vida.»;

 

em França

 

«para a vida»;

 

no Reino Unido

 

«desde 2004 e sem regresso previsto a Portugal»;

 

na Suíça

 

«Quando não se consegue trabalho em Portugal por se terem habilitações a mais... vamos para o país que primeiro nos dá oportunidade. Vim para a Suiça completamente sozinha porque foi onde consegui trabalho mais depressa. (…) Não tenho data prevista de regresso a Portugal. O mais provável é não regressar.»;

 

«Duração prevista: se possível, para sempre.».

02
Nov18

Imigrantes e expatriados

Ricardo Jorge Pereira

Num tempo de globalização – que já me parece ser um processo imparável mas que alguns insistem em pretender pôr-lhe um travão… –, duas das palavras com que mais vezes me tenho vindo a deparar são imigrante e expatriado.

Ambas significam, em teoria, que alguém está a viver e a trabalhar longe do país onde nasceu.

Em teoria porque descobri entretanto que, na prática, são palavras utilizadas diferentemente: o texto “Why are white people expats when the rest of us are immigrants?” que o jornal britânico The Guardian publicou digitalmente em Março de 2015 e que foi escrito por Mawuna Remarque Koutonin explicou: «Não será considerada uma expatriada qualquer pessoa que vá trabalhar para lá das fronteiras do ‘seu’ país? Não, a palavra aplica-se exclusivamente a gente de cor branca».

E continua: «os Africanos são imigrantes. Os Árabes são imigrantes. Os Asiáticos são imigrantes. Já os Europeus são expatriados porque não podem estar ao mesmo nível do que outros de outras etnias. São superiores. Imigrantes é, todavia, um termo ‘aplicado’ apenas às raças inferiores.».

Admitindo, evidentemente, que esta diferenciação se deve a uma concepção mental e moral (superioridade e inferioridade) – errada, quanto a mim –, não posso deixar de imputar a maior ‘quota’ na responsabilidade pela perpetuação destas (e de outras…) concepções e preconceitos morais e étnicos a muitos órgãos de comunicação social (e, por extensão, a muitos profissionais do jornalismo, claro) que trabalham as questões da imigração, da emigração (e, enfim, das migrações humanas) bem como a muitos profissionais responsáveis pela elaboração de conteúdos de muitos manuais escolares.

31
Out18

Poupança e abundância

Ricardo Jorge Pereira

Assinalando-se hoje o Dia Mundial da Poupança parece-me perfeitamente oportuno transcrever uma pequena parte de um texto publicado pelo economista canadiano John Kenneth Galbraith – em língua portuguesa, “A sociedade da abundância” (foi 1984 o ano da edição portuguesa).

 

«A experiência que as nações têm do bem-estar é demasiado curta. Quase todas, através da História, foram muito pobres. A excepção, quase insignificante em relação ao total da existência humana, foram as gerações recentes neste relativamente pequeno canto do mundo habitado pelos Europeus. Aí e principalmente nos Estados Unidos, tem havido uma grande abundância, praticamente sem precedentes. (…).

Não seria de esperar que as preocupações com a pobreza fossem importantes num país em que o individuo comum tem acesso a coisas agradáveis – comidas, divertimentos, transporte pessoal, canalização nas casas – que há um século nem os ricos podiam ter. A mudança foi tão grande que muitos dos desejos do indivíduo nem sequer são evidentes para ele próprio. Só se tornam evidentes quando elaborados e alimentados pela propaganda e pela técnica de vendas.».

30
Out18

O fim da história?

Ricardo Jorge Pereira

Esqueci-me, no post que ontem aqui deixei, de abordar a ‘conclusão’ da obra de referência do cientista político norte-americano Francis Fukuyama.

Ora, a eleição, em diversas latitudes, de muitos agentes políticos considerados ‘populistas’ e/ou ‘defensores da ideologia de extrema-direita’ é mais uma prova de que o postulado proposto em “O fim da história e o último homem” logo após a ‘queda’ da URSS no início da década de 1990 – de que a democracia liberal iria triunfar em todo o mundo (leitura por muitos feita apesar do referido autor ter já vindo a público explicar que as suas ideias foram deturpadas…) – era “precipitada” e “apressada”.

29
Out18

As leituras do eleito

Ricardo Jorge Pereira

Jair Bolsonaro.

É este o nome da pessoa que ocupará, nos próximos quatro anos, a presidência do Brasil.

Mantenho, efectivamente, tudo o que já aqui escrevi há alguns dias: quem quer que viesse a ser o Presidente do Brasil nada mais seria do que mero ‘boneco’ nas mãos dos credores internacionais.

Independentemente disso (ou seja, dos testas-de-ferro supostamente escolhidos pelo voto popular), creio, no entanto, ser ainda relevante citar ‘pedaços’ de uma entrevista publicada na edição impressa do jornal Negócios (no pretérito dia 19 de Outubro) feita a Alexandre Schwartsman – economista brasileiro, ex-director de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil (entre 2003 e 2006) e ex-economista-chefe do banco Santander no país porque me parecem ajudar a explicar a eleição da ‘personagem’ Bolsonaro e porque penso que se estendem, por assim dizer, a muitos outros lugares (a Portugal, por exemplo).

Ou seja, porque permitem uma dupla leitura: uma interna e outra externa.

 

«a sociedade está profundamente doente e o Bolsonaro é a expressão da sociedade.»; «A gente não vai botar a culpa em Portugal. Tivemos 200 anos para mudar e a gente não mudou. A gente vai colher o que plantou.»; «Na verdade, a sociedade brasileira está desencantada com a democracia. Porque os resultados têm sido ruins. Porque a elite política deste país, de alguma maneira, frustrou as pessoas. Elas olham para a política e não vêem lá ninguém que as represente.»; «Ele [Jair Bolsonaro] será o próximo Presidente da República. Sem rigorosamente nada na cabeça. É uma pessoa desarticulada. Se a gente acha que a Dilma [Rousseff] era desarticulada – e ela é –, a gente não viu o Bolsonaro falar. Consegue ser pior.».

 

E sobre a eleição (também no dia 8 de Outubro) para o Congresso (órgão político e institucional semelhante ao parlamento português) brasileiro: «Só trocaram as moscas. É aquela história, o soldado que está ferido e alguém espanta as moscas. Por amor de Deus, aquelas moscas já estavam saciadas, agora você trouxe moscas novas. O pessoal vem com uma sede danada.».

26
Out18

«A sociedade é assim»...

Ricardo Jorge Pereira

A não ser que algo me proporcione o riso não é habitual tê-lo enquanto estou a olhar para uma qualquer montra de uma loja.

Foi, no entanto, isso mesmo que aconteceu quando, há algum tempo, li a ‘mensagem’ que estava inscrita num azulejo (ambos idealizados, já agora, na Fábrica Sant’Anna).

(Acrescento, apenas, que esse sorriso não se deveu, em minha opinião, claro, por esta mesma ‘mensagem’ ser constituída por um conjunto de frases totalmente falsas e sem um “fundo” de verdade…).

 

«A sociedade é assim:

O pobre trabalha

O rico explora-o

O soldado defende os dois

O contribuinte paga pelos três

O vagabundo descansa pelos quatro

O bêbado bebe pelos cinco

O banqueiro “esfola” os seis

O advogado engana os sete

O médico mata os oito

O coveiro enterra os nove

O político vive dos dez».

25
Out18

A origem da fé

Ricardo Jorge Pereira

O médico psiquiatra austríaco Sigmund Freud – considerado o pai da psicanálise – escreveu várias cartas a James Jackson Putnam, neurologista norte-americano.

Cito, de facto, um excerto de uma delas (escrita no início de 1910):

 

«A religiosidade encontra-se biologicamente relacionada com o prolongado despojamento e a contínua necessidade de protecção do ser humano durante a infância; quando, mais tarde, o adulto reconhece o seu abandono real e a sua fraqueza perante as grandes forças da vida, reencontra-se numa situação semelhante à da infância e procura então desmentir essa situação sem esperança ressuscitando, pela via da regressão, as potências que o protegiam em pequeno.».

24
Out18

"Made in...China"

Ricardo Jorge Pereira

Não creio ser uma novidade para quem quer que viva em Portugal (e não só, claro) dizer-se que uma percentagem muito significativa dos produtos à venda nas lojas são fabricados na República Popular da China.

Mas nem sempre assim foi.

Ora, escassos dias depois da realização, em Bruxelas, da reunião “Ásia-Europa” e no dia posterior à inauguração de uma ponte com 55 quilómetros de extensão ligando Hong Kong, Zhuhai e Macau, parece-me ser oportuno lembrar um excerto de um trabalho escrito pelo jornalista e autor galês Ernest Edwin Williams no final do século XIX intitulado “Made in Germany”…

 

«Olha à tua volta, amigo leitor: verás que o tecido de algumas peças do teu vestuário foi com certeza tecido na Alemanha. E, mais provavelmente ainda, que algumas roupas da tua mulher são de importação alemã (…). Em cada recanto da tua casa encontrarás a marca fatídica, desde o piano do escritório até às chávenas da cozinha (…). Apanha do chão o papel de embalagem de um pacote de livros: também ele foi feito na Alemanha. Lança-o ao fogo e repara que o atiçador que tens na mão foi forjado na Alemanha. Ao levantares-te, derrubas um vaso que se encontrava junto à chaminé e, ao apanhar os cacos, lês no pedaço que constituía o fundo: Made in Germany.».

23
Out18

Para venda

Ricardo Jorge Pereira

Drake.

Portando o apelido do famoso navegador e corsário inglês Francis Drake, assim se chama a ilha britânica (localizada no Sudoeste de Inglaterra) que está para venda.

Ou, como dizem por esses lados, “for sale”.

Continuei a ler: desde que desembolse perto de sete milhões de euros, qualquer pessoa poderá adquirir um pouco da história do país já que esta ilha (com uma dimensão pouco maior do que dois hectares) foi um importante bastião (fortificada no século XVII) na defesa da costa britânica. ‘Converteu-se’, mais tarde, numa prisão de Estado.

Ora, admito a minha perplexidade ao ler esta notícia.

Que não é tributária, no entanto, do facto ser uma novidade na Europa (ou no mundo…).

Tal deve-se, na verdade, ao facto de que, em minha opinião evidentemente, tal venda extravasa a simples venda de património físico: é, sim, a venda de uma parte da História de um país. E de pessoas.

Compreendo que, numa época em que (quase?) tudo parece ter um preço e, assim, se pode vender e comprar (como escreveu o sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein, «A razão de ser do capitalismo é a eterna acumulação de capital»), a alienação de património histórico e cultural mais não seja do que uma venda de um bem como qualquer outro.

Compreendo mas desprezo este tipo de atitude pelo que não abdico de pensar que o mundo precisa urgentemente de verdadeiros líderes que, por serem isto mesmo, respeitem a História como um dos ‘pilares’ identitários essenciais do ser humano.

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