Já abordei aqui no blogue o ‘tema’ do terrorismo.
Volto, no entanto, a escrever sobre ele (e estou, de resto, convencido de que não será a última vez que o faço) porque é algo que não posso – não podemos… – ‘afastar’: é um fenómeno que veio para ficar, por assim dizer.
Nova Iorque, Bali, Moscovo, Madrid, Londres, Nova Deli, Jaipur, Casablanca, Bombaim, Marraquexe, Boston, Utøya, Nairobi, Paris, Bamako, Ouagadougou, Copenhaga, Tunes, Sousse, Cidade do Kuwait, Banguecoque, Sharm el-Sheikh, San Bernardino, Islamabad, Grand Bassam, Bruxelas, Lahore, Jacarta, Istambul, Orlando, Daca, Bagdad, Medina, Cabul, Nice, Würzburg, Munique, Ansbach, Quetta, Berlim, Quebeque, Charlottesville, Barcelona, Turku, Surgut, …
A lista de locais que foram ‘palco’ de ataques terroristas após o início do terceiro milénio depois do nascimento de Cristo parece não ter fim e lembra-nos, constantemente, que nada nem ninguém está completamente a salvo da violência de tais actos.
Ora, como escreveu o historiador Charles Townshend no seu livro O terrorismo, este «desorienta as pessoas. Fá-lo deliberadamente pois é esse um dos seus objectivos principais e é por essa razão que tem monopolizado a atenção do mundo neste início de século. A insegurança pode surgir de muitas maneiras mas nada como o terrorismo perturba tanto o sentimento humano de vulnerabilidade».
Foi, no entanto, a Revolução Francesa (que tinha como lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”) a espoleta do terrorismo: o Estado colocou-o ao seu serviço enquanto instrumento de carácter político.
A própria I Guerra Mundial teve início após um atentado que vitimou o herdeiro do trono do império Austro- Húngaro, Francisco Fernando, e a sua mulher.
Ainda no século XX, começaram a pontuar, em solo europeu, movimentos que, impelidos por convicções ideológicas e reivindicações políticas, perpetravam acções violentas com uma ambição local e/ou regional: as Brigate Rosse, em Itália; o Baader Meinhof, na Alemanha; a Euskadi ta Askatasuna (E. T. A.) em Espanha, o Irish Republican Army (I. R. A.) no Reino Unido, a Action Directe em França ou as FP-25 em Portugal, por exemplo.
O Prof. Miguel Monjardino salientou mesmo, num texto publicado pela revista do jornal Expresso em Abril de 2016, que «Um dos grandes feitos do Daesh [ou Estado Islâmico] foi ter criado uma desorientação tão grande nas sociedades europeias que ninguém parece ser capaz de explicar os acontecimentos».
Aproveitando, mais tarde, a ‘modernidade’ política ocasionada com a queda do muro de Berlim, a implosão da União Soviética e o fim da Guerra Fria e as possíveis alterações doutrinárias que tais eventos implicaram, o terrorismo transformou-se.
Como, de resto, explicou o já citado historiador Charles Townshend: o terrorismo «passou a ter um pendor internacional a partir da década de 70 [do século XX]. O desvio de aviões como o acto terrorista mais emblemático internacionalizou de imediato a questão».
Passaram, então, a ser visados, principalmente, civis como os seus alvos de eleição na sua ilegítima e sanguinária luta contra os Estados.
A al-Qaeda tomou, então, a dianteira dessa violência.
No entanto – e ainda ‘viva’ – a al-Qaeda viu, anos mais tarde, a instabilidade política, social e militar que se verificava na Síria (a partir de 2011) e no Iraque ajudar, uma vez mais, a criar os pilares de uma outra organização que se tornaria, também ela, tentacular e que parecia querer, novamente, desafiar e, ao mesmo tempo, erradicar os conceitos de liberdade e de humanidade da face da Terra: o autoproclamado Estado Islâmico (também designado por “Da’esh”, “EI”, “ISIS” ou “ISIL”).
A brutalidade dos ataques terroristas que tem vindo a inspirar ou a preparar e a reivindicar tem feito, por isso, virar cabeças em todo o mundo.
Insegurança e medo.
É, de facto, esta a definição de terrorismo proposta pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa: gerar a insegurança e o medo.
E é, também, este esclarecimento conceptual o que melhor descreve os sentimentos desencadeados pelos ataques perpetrados pelo terrorismo no século XXI, quer pela abrangência global em termos geográficos, quer pela profunda intolerância (e ódio) pela existência e pelo modo de vida do Outro, quer, ainda, pelo uso indiscriminado das novas tecnologias e dos meios de comunicação social.
De facto, primeiro local e regional.
Depois, internacional.
Aviões sequestrados, ataques através de explosões, atropelamentos, facadas.
Qual o método seguinte?
Quem?
Quando?
Uma pista: em Setembro de 2014, o então porta-voz da organização Estado Islâmico expressou um desejo quanto à realização de ataques contra civis no ‘Ocidente’ (Europa e Estados Unidos da América, sobretudo): «Se não forem capazes de encontrar uma bomba ou uma bala, então esmaguem a sua cabeça com uma pedra, apunhalem-no com uma faca, atropelem-no com o vosso carro, atirem-no de uma falésia, estrangulem-no, envenenem-no (…) Se não forem capazes de o fazer, então queimem a sua casa, carro, loja. Ou destruam as suas colheitas. Se não puderem, então cuspam-lhe na cara».