A capa do Jornal de Notícias do passado dia 19 de Setembro destacou, também, o caso de uma escolha académica.
«Melhor aluno do Minho seguiu o coração e escolheu História», registou.
Assim, quando muitos esperavam que esse jovem escolhesse Medicina, Engenharia ou, até, Direito, ele escolheu cursar História.
Creio, por isso, ser uma excelente ocasião para recordar um excerto de um texto – “O fim das ciências sociais e das humanidades?” – que escrevi há um par de anos sobre este género de opções académicas.
E de vida...
«O artigo Le Japon va fermer 26 facs de sciences humaines et sociales, pas assez «utiles», publicado na edição online do jornal francês Le Monde no passado dia 17 de Setembro de 2015, sublinhou que 26 universidades nipónicas tinham anunciado querer encerrar as suas faculdades de ciências sociais e humanas ou, pelo menos, limitar e reduzir a sua actividade.
Uma decisão, observou, tomada após a recepção de uma missiva enviada pelo ministro da educação do país dirigida, no início de Junho deste ano, aos presidentes de 86 universidades de todo o país pedindo-lhes que encerrassem ou modificassem «tais departamentos no sentido de beneficiar disciplinas que servem melhor as necessidades da sociedade» japonesa.
Por outro lado, o artigo Which country has most humanities graduates?, publicado em 2 de Setembro de 2015 no sítio do Fórum Económico Mundial, salientou que «um pilar decisivo para o crescimento económico é a disponibilidade de um diverso e altamente especializado “viveiro” de talentos» já que o mesmo «permite a um país poder maximizar o seu capital humano.».
Citando dados compilados pelo próprio Fórum para o seu relatório de 2015 acerca do capital humano, frisou que o top 10 dos países com o maior número de graduados em artes e em humanidades era encabeçado pelos Estados Unidos da América com quase 400 mil licenciados anualmente nestas duas áreas seguido, precisamente, pelo Japão com pouco mais de 144 mil diplomados todos os anos.
Em terras lusas, revelou o físico e político independente recentemente eleito por um partido político nas eleições legislativas portuguesas, Alexandre Quintanilha, num bloco noticioso emitido em 7 de Outubro de 2015 (Telejornal da cadeia televisiva RTP 1) que «há uma depreciação da área das humanidades e das ciências sociais que me desagrada».
Estaria a referir-se, apenas, ao panorama académico e cultural português?
Não sei.
Fruto da minha formação académica em antropologia e da minha actividade profissional de investigador, reflicto muitas vezes sobre a existência das ciências sociais, das artes e das humanidades nos sistemas educativo, social, económico e cultural da maior parte das actuais sociedades do mundo.
E se não existissem, de todo?
Então, todos os assuntos e acontecimentos que preocupam – e que modelam – os cidadãos contemporâneos (como o desemprego, as dependências físicas e virtuais, a guerra, as migrações, as mudanças climáticas, a criminalidade, por exemplo) teriam de ser observados, analisados e comentados, maioritariamente, por actores ligados à engenharia, à medicina, à matemática, à física, à química e às finanças…
Enfim, às ciências exactas e naturais.
Assim, a “lupa” analítica reduzir-se-ia bastante.
Quem perderia?
As sociedades no seu todo porque ver-se-iam privadas de opiniões e de pontos de vista diferentes e alternativos.
Ou seja, todas são precisas: ciências sociais e humanas, artes, ciências naturais e exactas uma vez que os ensinamentos que propõem nos permitem olhar o mundo com outros olhos e pensar.
Mas parece que alguns ainda não perceberam isto».