A manipulação (ou as verdades 'esquisitas')
Um dos assuntos que mais insistentemente tem marcado presença em conversas com amigos é o da manipulação.
A um nível macro e não, claro, a um nível micro.
«A manipulação de pessoas é um fenómeno recente. Veja-se o exemplo das fake news...», dizem-me.
«Tudo depende», respondo, «do que se entende por “recente”».
Invoco, por isso mesmo, logo de seguida, três acontecimentos que me parecem ser exemplarmente elucidativos daquilo que foi e é a manipulação exercida a uma larga escala, por assim dizer.
O primeiro tem como ‘palco’ a Alemanha governada por Adolf Hitler.
Em determinado momento da sua governação a taxa de aprovação/satisfação pelos alemães chegou a ser extremamente elevada.
É claro que a melhoria do desempenho económico e social da generalidade da sociedade alemã influenciou grandemente uma vastíssima percentagem do povo germânico a aprovar o ‘seu’ líder mas acho que tão (ou mesmo mais) importante do que a dita elevação económica e social da Alemanha foi o facto de Hitler – e seus algozes – terem ‘dito’ a cada um desses alemães que pertencia à chamada raça superior.
Efectivamente, Adolf Hitler e o nacional-socialismo mais não fizeram do que dizer (porque não tenho grandes dúvidas de que o ‘sentimento’ de suposta superioridade étnica e racial já existia) aquilo que os alemães queriam ouvir: que eram “grandes” e importantes.
O que depois se veio a passar já todos conhecemos.
O segundo exemplo: nas vésperas do início da guerra mundial originada pelos ‘actores’ atrás mencionados vários estudos de opinião eram unânimes em considerar que os Estados Unidos da América não queriam participar na guerra (já então não só uma contenda puramente europeia).
O comum cidadão norte-americano que seria quem, como sempre e em toda a parte, pagaria com a vida os desígnios político, militar e da indústria de armamento, bem entendido.
A estes ‘sectores’ interessava, obviamente, o contrário pelo que se tornou necessária uma alteração daquela vontade de não participação.
E eis que subitamente os Estados Unidos da América foram alvo de um ataque por parte de aviões de guerra japoneses (à base naval de Pearl Harbor, no Havai, em 7 de Dezembro de 1941).
Ora, a chamada opinião pública mudou e os Estados Unidos da América lá acabaram por ‘entrar’ na guerra.
O terceiro exemplo: um dos principais (se não mesmo o principal) argumentos para “libertar” o Iraque, no início deste século XXI, do regime liderado por Saddam Hussein era o de que o país estava “carregado” de armas de destruição maciça e de que a sua utilização interna e externa poderia ser uma realidade não muito distante em termos temporais.
Numerosos relatos pessoais e relatórios oficiais (e oficiosos) confirmavam-no quase à saciedade.
Ora, depois de o Iraque ter sido “libertado” (o seu líder Saddam foi, primeiro, feito prisioneiro e, depois, enforcado, por exemplo) rapidamente se chegou à conclusão que o país não tinha ADM (as referidas armas de destruição maciça) nem nunca havia tido.
Reconheço, todavia, que apesar de invocar três exemplos do que penso terem sido claras manipulações, poderia invocar muitos mais (do chamado 11 de Setembro à invasão e “libertação” da Líbia sem esquecer o referendo que levou ao “Brexit”).
E algo me diz – não as “fake news” – que o futuro trará ainda mais (e tristes) exemplos de verdades ‘esquisitas’...