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24
Set18

A era do consumo de massa(s) e do vazio

Ricardo Jorge Pereira

Escreveu o filósofo e sociólogo francês Gilles Lipovetsky num livro editado em Portugal há muitos anos com o título “A Era do Vazio” o seguinte:

 

«Consumo de massa: a despeito da sua incontestável verdade, a fórmula não é isenta de ambiguidade. Sem dúvida, o acesso de todos ao automóvel ou à televisão, ao blue jean e à coca-cola, as migrações sincronizadas do week-end ou do mês de Agosto designam uma uniformização dos comportamentos. Mas esquecemo-nos demasiadas vezes de considerar a face complementar e inversa do fenómeno: a acentuação da singularidade, a personalização sem precedentes dos indivíduos. A oferta em abismo do consumo desmultiplica as referências e os modelos, destrói as fórmulas imperativas, exacerba o desejo do indivíduo de ser plenamente ele próprio e de gozar a vida, transforma cada um num operador permanente de selecção e de combinação livre, é um vector de diferenciação dos seres. Diversificação extrema das condutas e gostos, amplificada ainda pela “revolução sexual”, pela dissolução das compartimentações sócio-antropológicas do sexo e da idade. A era do consumo tende a reduzir as diferenças desde sempre instituídas entre os sexos e as gerações e isso em proveito de uma hiperdiferenciação dos comportamentos individuais, hoje libertados dos papéis e convenções rígidas.».

 

Não sei se, de facto, este autor concordaria hoje exactamente com aquilo que escreveu há quase trinta anos (ou há mais, na verdade, se tomadas em consideração as datas do escrito original e a da tradução portuguesa…) mas mesmo que isso acontecesse eu discordo.

E discordo por isto: em minha opinião, o chamado consumo de massa(s) não permite aos indivíduos consumidores «gozar a vida», nem libertar-se das “grilhetas” impostas pela sociedade que integra no que se refere ao género e à idade, nem muito menos «ser ele próprio».

Pelo contrário, esse consumo de massa(s) torna a vida de todos quantos se lhe submetem infinitamente mais controlada mas dá-lhes, ao mesmo tempo, a ilusão de serem eles próprios e de poderem gozar e aproveitar a vida.

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