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30
Ago17

Não culpem os turistas!

Ricardo Jorge Pereira

Tenho, nas últimas semanas, visto algumas reportagens e lido algumas peças jornalísticas sobre aquilo que se convencionou chamar “massificação do turismo” e sobre as suas influências – nefastas, disseram – sobre o modo de vida local (ou seja, dos sítios visitados).

Recordei-me, então, de alguns textos que, a este propósito, tinha lido no passado e que achei que valia a pena serem relembrados porque abordavam, directa ou indirectamente, a realidade portuguesa.

Começo, assim, por invocar um texto – “Learning from Barcelona” (escrito por Ricardo Carvalho) – que o suplemento Ípsilon do jornal Público publicou no fim de Junho de 2014.

Um texto que serviria, dizia o autor, «para pensar e aprender com Barcelona».

Realço, também, o pequeno artigo “Oferta turística aumenta sem precedentes na cidade [Lisboa]” publicado, no fim de Dezembro desse mesmo ano de 2014, pelo jornal Destak.

Este registou, de facto, que havia quem elogiasse e quem falasse «numa certa descaraterização».

Ora, o “Primeiro Grande Inquérito Sobre Sustentabilidade Em Portugal”, coordenado cientificamente pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e que teve Luísa Schmidt e Mónica Truninger como investigadoras responsáveis, foi apresentado no início de Setembro de 2016 e concluiu, por exemplo, que quase metade dos cidadãos portugueses considerava que o turismo deveria ser um dos sectores que mais investimento da parte das instâncias governamentais deveria recolher...

Concluo este post com a transcrição de uma parte de um artigo de opinião – “Tourism: growth is not the enemy; it’s how we manage it that counts.” – que escreveu Taleb Rifai, secretário-geral da Organização Mundial de Turismo, há poucas semanas:

«Têm, nos últimos tempos, sido divulgados diversos episódios com origem em todo o mundo dando conta de ‘turismofobia’ mostrando-nos imagens de cidadãos em protesto contra “as invasões turísticas” e o transtorno por elas ocasionado.

Enquanto actividade económica, o turismo é relativamente novo; tornou-se, no entanto, actualmente, num sector central para as sociedades e para o nosso modo de vida: o turismo é sinónimo, mundialmente, de 10% do Produto Interno Bruto [PIB], de 1 em cada 10 empregos e de 30% do volume negociado no capítulo dos serviços.

É, por isso, um factor essencial para o equilíbrio orçamental de muitos países e, claro, de muitas famílias.

Não esquecendo que o turismo nos pode ajudar a atingir ‘metas’ comuns, a Organização da Nações Unidas declarou o ano de 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, lembrando-nos que o crescimento origina responsabilidade.

Um sector turístico sustentável é um sector que promove a preservação do ambiente e a protecção do património cultural material e imaterial mas é, sobretudo, um sector que promove o envolvimento e o respeito das e pelas comunidades locais.

Gerir o crescente número de visitantes que acede a inúmeras regiões do nosso planeta é tarefa crucial não apenas para estes mas, também, para os autóctones.

Em países como Espanha ou França, a percentagem de turistas ‘domésticos’ é mais elevada do que a de turistas ‘internacionais’…

Mas, o crescimento não é o inimigo.

Crescer é o eterno desígnio da humanidade.

Assim, o crescimento turístico pode – e deve – levar à prosperidade económica, a empregos e a recursos suficientes para promover a protecção ambiental e a preservação cultural.

Ou seja, induzir o desenvolvimento das comunidades e o ‘progresso’ que, diga-se, nunca existiriam se o crescimento turístico também não existisse.

O crescimento do turismo tem, também, outros significados: ampliar os nossos horizontes, abrir as nossas mentes, melhorar o nosso bem-estar e, desse modo, tornar-nos melhores pessoas.

Enfim, tornar o mundo melhor.

No entanto, assegurar que o turismo é uma experiência enriquecedora para visitantes e ‘visitados’ exige criteriosas políticas de gestão do mesmo bem como o envolvimento dos vários parceiros do ‘diagrama turístico’: governos centrais, autarquias locais, empresas privadas, comunidades locais e os próprios turistas.

O sector turístico precisa, de facto, de se guiar por regras claras que, longe de impedirem o seu crescimento, lho permitam e lhe assegurem uma gestão sustentável.

Regras que impliquem a diversificação das actividades proporcionadas aos visitantes, que promovam a correcta introdução de ‘mecanismos’ políticos de gestão do número de visitantes dos locais, que concorram para a elaboração de políticas que reduzam a sazonalidade, que fomentem a criação de incentivos para que o sector privado possa investir em novos produtos e que impulsionem a elaboração de políticas que contribuam para a redução do consumo de energia e o consumo de água e ‘respondam’ a outras necessidades das comunidades.

Têm, efectivamente, nos últimos tempos, sido noticiadas várias situações de destinos turísticos em luta para encontrarem um ponto de equilíbrio entre o modo de vida local e a gestão do crescimento do número de turistas.

Em Veneza e em Barcelona, por exemplo.

Assim, se é verdade que as comunidades locais têm que ser consultadas e envolvidas no turismo, não o é menos que a ‘turismofobia’ resulta de uma falha na gestão do crescimento do número de turistas de uma forma saudável e sustentável.

As más práticas resultantes do trabalho ilegal de empresas turísticas, os ‘estragos’ ambientais ou o mau comportamento de um pequeno número de visitantes não representa uma ‘escassez’ de ética de todo o sector turístico.

Representa, sim, a falência da gestão do mesmo.

Todos os esforços desenvolvidos por empresas, governos, sociedades civis e viajantes de todo o mundo nas últimas décadas para tornar o sector do turismo mais responsável não podem, assim, ser deitados fora».

Ou seja, o crescimento do número de turistas não é o ‘inimigo’.

O importante é mesmo a forma como se gere (ou não…) esse crescimento.

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