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22
Jun17

O despertar do dragão chinês

Ricardo Jorge Pereira

O desenvolvimento do Império do Meio é um dos mais importantes acontecimentos do fim do século XX e do início do XXI já que tem obrigado, quer dentro de portas, quer fora, a reformulações nas dimensões social, económica, cultural, militar, etc., em todo o mundo.

De facto, se, no início da década de 1980, mais de 80% dos chineses vivia abaixo do limiar da pobreza então considerado, apenas 2% dos chineses foram, em 2013, considerados “muito pobres”.

Por exemplo, a China ultrapassou, em 2009, os Estados Unidos da América como o maior parceiro comercial de muitos dos países africanos.

Na verdade, muito antes do actual presidente chinês, Xi Jinping, ter dado a conhecer as ideias gerais do seu gigantesco projecto “Iniciativa Faixa e Caminho”, o seu antecessor Hu Jintao tinha já apresentado uma ambiciosa e extensa estratégia de desenvolvimento para a China no continente africano.

Efectivamente, até 2014, a China tinha construído, em África, mais de trinta centrais de produção de energia, cerca de uma dezena de portos (no Senegal, no Gana, na Tunísia e em várias outras regiões africanas), perto de uma dezena de aeroportos, pontes e estádios desportivos e conseguira a construção de milhares de quilómetros de linhas férreas e de vias rodoviárias.

A China está, ainda, a construir uma nova infra-estrutura portuária de águas profundas nos Camarões bem como a 1.ª base militar fora das suas fronteiras no Djibouti (país localizado no chamado “Corno de África”, a relativamente pouca distância do canal do Suez, um dos mais movimentados corredores marítimos no mundo).

Para além do mais, um grupo empresarial chinês irá começar a construir, no segundo semestre de 2017, em Marrocos, a “Cidade Mohammed VI Tanger Tech” que, portando o título do actual monarca do reino marroquino e o nome da cidade que ladeará – Tânger –, será um enormíssimo pólo industrial ocupando cerca de 20 mil hectares na região Tânger – Tétouan – Al Hoceima e capaz de acolher cerca de 300 mil habitantes.

Esta cidade situar-se-á, pois, a curta distância do porto de águas profundas TangerMed.

Recorde-se que a maioria do comércio mundial faz-se, actualmente, através dos mares.

Ora, o congressista norte-americano Devin Nunes, em entrevista à agência Lusa em Abril último, referiu: «A China espalha influência pelo mundo; em África trazem pessoas, constroem estruturas, que muitas vezes não funcionam bem, colocam militares, não se misturam com as pessoas e só se preocupam com eles».

Cerca de um mês antes, também em entrevista (desta feita ao jornal alemão Die Welt), fora a vez do presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, tecer críticas à actuação da China no continente negro: «África arrisca tornar-se hoje numa colónia chinesa, os chineses só querem as matérias-primas. A estabilidade não lhes interessa».

Tendo em conta o percurso histórico, até aos nossos dias, da relação de muitos Estados europeus e dos Estados Unidos da América (por exemplo, o colonialismo e o comércio de escravos) com o continente africano, não me parece que as afirmações produzidas pelos agentes políticos citados possam ser consideradas intelectualmente verdadeiras e honestas.

Pelo contrário, acho os nomes “hipocrisia” e “inveja” muito mais apropriados para as enquadrar e descrever.

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