Privacidade: ainda existe?
Um amigo disse-me, há dias, que considerava que o facto de os médicos de família designarem os utentes que aguardavam nas respectivas salas de espera dos centros de saúde a sua vez de serem consultados pelo seu nome completo (ou pelo nome ‘primeiro’ e o apelido) uma enorme quebra na privacidade de cada cidadão já que a transmissão de tais dados através de uma espécie de sistema interno de som poderia permitir a devassa digital da sua personalidade.
Confesso que nunca tinha reparado – nem pensado – neste aspecto mas pensei que faria algum sentido, por assim dizer, a preocupação deste amigo.
Fiz e faço, no entanto, a seguinte pergunta: qual é o ‘grau’ de privacidade que cada uma/um já tem quando, por exemplo, tem que preencher um simples impresso/formulário para subscrever um qualquer serviço (ou para interagir com o Estado) contendo o seu nome, o número de identificação fiscal (o número de contribuinte) e o do cartão de cidadão1?
1 A questão que coloquei no título deste texto – “Privacidade: ainda existe?” – fará ainda mais sentido de existir se se ler, como eu li, o artigo que o jornal de Hong Kong South China Morning Post publicou, online, há alguns dias atrás: “China to build giant facial recognition database to identify any citizen within seconds”. De facto, tal sistema de identificação a ser implementado na República Popular da China permitiria garantir, «com um grau de confiança de 90%», controlar a população.